Não importa o que você faça eles sempre terão algo a dizer. Algum comentário desagradável no mínimo. Eu não sei porque eles fazem essas coisas, mas eles fazem.
E aí dividem os homens, separam e qualificam. E você paga o preço e suas roupas as vezes não vestem tão bem quanto as deles, e seu cabelo não é tão bonito, ou não tem cabelo algum. Você fica na pior.
Eles vão estragar o jardim com suas botas pesadas, e vão arrastar o lixo e juntar com mais lixo que arrastaram numa enorme pilha colorida e disforme. E quando você aparecer novamente elas vão dizer “olha quem voltou se não é o Carlos Caseiro! De volta ao inferno, por acaso se cansou do paraíso?” e aí vão te pedir cigarros e fazer promessas com seus corpos, e elas vão te deixar na pior.
Porque tudo corre. Nada fica parado. E as vezes é difícil se agarrar em algo sólido o suficiente. O asfalto cede, o esgoto sobe, e a merda transborda. Você chega em casa fedendo a bueiro, seus passos deixam um rastro de barro, você respira um cigarro e expira desilusão. Na tv são tantos canais que não há nada pra ver, o controle dispara comandos enquanto você tenta escolher uma história que te surpreenda. Mas a vida imita a arte, e não há nada de novo. Você continua bebendo sentado no sofá. Fumaça e barulho.
Estar vivo é assombroso.
Morrer é absurdo.
Mas eles vão tentar te deixar na pior. Mesmo quando ainda há sol e a lua e estrelas e o oceano, e toda aquela força invisível que paira no ar, esperando o momento que algo a incite. E alguma coisa talvez aconteça. Eles vão estar nas esquinas esperando, pra te deixar na pior. A chuva continuará a cair sobre todos. Os gatos nos telhados irritarão os cachorros noite adentro. Não há nada a fazer.
Eu sinto muito.
No comments:
Post a Comment