Sunday, September 16, 2007

Acordo cedo, antes do sol se levantar eu me levanto, molho o rosto com água da bacia de prata, olho pelo alto da torre ao lado da minha bandeira sem cor que move agitada com o vento, os campos não são tão verdes como nas pinturas na parede, nem como eram antigamente, calço minhas botas de couro, aperto a fivela e coloco minha armadura de ferro, desço a escada em espiral e saio pelo portão da frente.

Montado em meu cavalo e segurando minha espada velha e enferrujada.

Existe uma guerra acontecendo, eu estou no meio dela, no meio disso tudo, mas não sei bem ao certo quem são meus inimigos pois eles estão tão bem disfarçados que poderiam se sentar para jantar e ir embora sem dizer obrigado.

Às escuras meu cavalo retorna para casa todos dias pelo mesmo caminho, sem me fazer perguntas, como sou eu quem estou montado nele eu sigo sem reclamar, poderia ir a pé se quisesse mas iria me cansar ou me perder pelo caminho.

Derroto os dragões mas eles não morrem, e com o tempo se multiplicam, não vão embora mesmo que eu reze, deveria aprender a lutar melhor, para derrota-los com mais freqüência e mais facilidade, mas a guerra me impede de treinar mais.

Chego enfim ao castelo mais longe, mais perigoso e com mais inimigos, subo até a torre mais alta do quarto mais alto, mas não tem princesa, não tem lobo, não tem ninguém, talvez eu tivesse chegado tarde demais, ou até mesmo cedo demais.
Retorno pelo mesmo caminho, sem espada, sem escudo, sem princesa alguma, sem vitórias ou sem derrotas, apenas retorno para o meu lar.

Satisfeito com meu pedacinho, eu me levanto outra vez, molho novamente minha cara com água limpa para começar o dia, olho minha bandeira sem cor, e saio com meu cavalo que me guia para onde ele quiser, em algum lugar aonde a guerra sempre acaba e recomeça outra vez, aonde não existe tempo para descanso, aonde o perdão está fora de moda, pois nada mais é pecado, não existem mais culpados, sem pessoas totalmente vencedoras ou totalmente derrotadas, apenas nós todos aqui, no meio disso tudo, tentando sobreviver.

Crendo sempre no amanhã, agradecendo sempre pela brisa refrescante, e mesmo que as vezes duvidoso, sempre confiante e fortalecido por uma palavra antiga:
Esperança.