Wednesday, March 29, 2006

Então havia chegado o final de semana, estávamos todos ansiosos por aqueles dias, muita festa, muito álcool e muitos outros, havia começado na sexta e ainda não havia acabado, e talvez por sorte conseguimos juntar um bando, e haviam pessoas conhecidas ali, Hellfrick estava presente, com sua turma de boêmios loucos e não havia ninguém, absolutamente ninguém com problemas ou preocupações, estávamos todos a fim de curtir a vida toda em dois dias de festa, eu não comia uma refeição há algum tempo, mas não sentia fome, tomava alguns comprimidos de vitaminas para me manter acordado, mas não conseguia me manter de pé, estava bêbado demais, cansado demais mas ainda com forças para dar algumas risadas dos outros bêbados, e como estávamos todos sentados isso não fazia a menor diferença, eu evitava movimentos bruscos, com uma mão eu levava o copo até minha boca e depois de volta para mesa, eu não enchia meu copo, alguém o fazia por mim.
A minha turma estava reunida um pouco distante das outras pessoas na festa, não queríamos nos misturar com aqueles estranhos, éramos bem piores do que eles, apenas olhávamos suas garotas risonhas com roupas transadas e coloridas, nós estávamos sem camiseta e de shorts mas não importávamos com o fato, queríamos apenas beber e essa era a nossa única ambição na vida naqueles dias, os copos e as garrafas mal cabia na mesa, a musica começou a pular, o cd estava arranhado, a musica ta fodida, eu disse, caiu uma garrafa no chão, não quebrou, eu me levantei com uma enorme dificuldade, cambaleei até o som e mudei de musica.

Velhas Virgens – Blues a perigo.

Mudou a musica mudou também o ambiente, as pessoas sorriam alegremente uns para as outras, exceto aqueles que não estavam de acordo com o som rolando freneticamente, um blues a perigo entrando nas cabeças drogadas de meus companheiros, Hellfrick você é um cara muito estranho, pensei, ele ficava andando de um lado para o outro, conversando com quase todas as pessoas ao mesmo tempo, e ainda sobrava tempo para sua garota, ah Hellfrick seu carcamano de uma figa, rolava sempre uns comprimidos para a turma tomar, eu tomava, e não consegui me deitar pra dormir um pouco, estava eufórico, podia voar pelos ares se quisesse, mas preferia ficar entoado entre aqueles lunáticos que me cercavam e eu também era um lunático, como eles ficava dizendo frases curtas e sem sentido, mas não ligava mais pra nada, tudo estava ótimo, havia de fato esquecido de meus problemas, não lembrava mais deles, e quando lembrava, já não fazia mais sentido ficar me preocupando, eu havia descoberto mais uma vez, deixe seus problemas de lado, e eles deixarão você de lado também, eu estava satisfeito, gostava da minha vida, da minha garota, de meus companheiros, de meu trabalho como pintor no cu do mundo da arte e ganhando pouco e gastando muito viajando pelo país em direção a todas as províncias existentes, conhecia lugares e pessoas interessantes, algumas não tão interessantes, mas sempre gostava de tudo, eu estava me divertindo.


De repente tudo ficou escuro, eu estava na horizontal, provavelmente caído em algum banheiro, não, eu estava em casa, no meu quarto, minha doce fortaleza, havia alguma coisa escrita no teto mas eu não conseguia ler, o teto estava se movendo, desde quando o teto do meu quarto adquiriu a capacidade de se movimentar? E também as paredes! A cama não gostava de mim, ficava tentando me jogar para fora, porra! Eu tinha que colocar o pé no chão, para o mundo parar, pare que eu quero descer! Escutava alguns sons muito estranhos, a onde está a música? Onde estão meus companheiros e as risadas? Hellfrick seu puto retardado! Me tire dessa maldita roda gigante.
Alguém chegou no meu quarto, a visão de um anjo, minha garota, parada em pé na porta, será que ela havia visto meus devaneios? Estendi minha mão para ela, venha se deitar comigo? Por favor! Ela se deitou ao meu lado, naquela cama onde tantas vezes fizemos amor, sexo, sei lá como chamam aquilo, trepada! Mas agora a cama não gostava de mim, e não haveria sexo, amor, me ajude? Por favor meu amor, me ajude? Meu pedido foi em vão, ela não podia me ajudar, ninguém poderia, eu estava sozinho, assim como tantas outras vezes, solitário, sem consciência e alucinado, ela se foi, a música acabou, meus amigos se foram, a festa acabou, tudo acabou, eu estava acabado.

Friday, March 10, 2006

Jukebox: Lynyrd Skynyrd – Devil in a bottle


Ancorado na cadeira, com a cabeça trabalhando a dois kilometros por hora sem saber oque fazer ou oque dizer para todo mundo estava meu corpo sujo e surrado pelos dias quentes daquele acampamento, talvez dentro dele, minha alma relutante de tanta calmaria tentava achar uma maneira mais fácil de conversar com aquela pessoa a sua frente que dizia sem parar coisas estranhas e desconhecidas, reparava sempre em seu cabelo sujo, aqueles dreads que não eram lavados a anos estavam horríveis, estavam horríveis eu pensava, resolvi me levantar e me escorar no balcão de madeira, o lugar era agradável, com uma decoração rústica, havia selas de cavalo penduradas na parede juntamente com rédeas e outros objetos do campo, da roça, enfim, havia uma galera genial nesse buteco a essa hora da madrugada e o bom de butecos abertos na madrugada a fora e que você sempre encontra pessoas legais e muito divertidas e todo o papo rola com uma naturalidade de dar inveja aos psiquiatras do mundo inteiro, em um instante você esta chegando no local e em outro já esta conversando com todo mundo ao mesmo tempo em uma sintonia maravilhosa e a conversa flui em alta velocidade, copos de variadas espécies eram colocados em minha frente a todo momento para serem bebidos de um só vez, e o tiro era certeiro, eu virava cada copo sem deixar qualquer gota, e em meio a musica alta e as pessoas falando em voz alta eu escuto o chamado, Carlos Caseiro vamos fumar um baseado?
Eu aceito de imediato.
A noite estava acabando, mas o dia ainda não havia nem começado.