Thursday, August 11, 2011

Então isso é tudo?!

E te vejo de novo, na espreita, esperando pra dizer alguma coisa idiota, ou um comentário extremamente desagradável e desnecessário.
Digo isso assim porque eu te conheço. E conheço o seu tipo. Sou bêbado, não sou retardado!

Sempre atrás de alguma coisa, nunca visto de corpo inteiro você está espera de um escorregão ou de um momento de fraqueza alheia pra soltar uma risada alta e dizer eu; “eu não te disse!”

Mas eu tenho uma novidade pra você Senhor Boca Grande, esse cavalo aqui perdeu suas rédeas, e não corre mais nessa pista.

Eu ando por ruas mal iluminadas e sujas. Convivo com marginais. Me deito com prostitutas.

Você não vai achar dinheiro algum na minha carteira, então não peça nenhum. Estou confortável no fundo do poço e não tenho pra onde ir, sem teto, sem renda eu não me rendo, sem luz e sem comida tenho energia suficiente pra andar por aí sem preocupações, imune ao mundo.

Eu me sinto bem. E essa sensação é minha.

Quando eu chego no bar e paro na porta fumando cigarro e deixando o pouco do cabelo que me resta cair na testa eu sou o sol e minha luz ofusca os olhos. As putas levantam dos colos que estão sentadas e correm ao meu abraço.

O mulherio, quando me vê, fica indócil.

Você fica na parte de dentro do balcão, como se fosse o dono, seu sorriso expõe a sua falta de dentes mas não esconde a sua falta de caráter. Não sou seu inimigo, sou seu adversário, e nunca perco.

A noite avança, as garrafas vão se esvaziando e os cinzeiros vão ficando lotados.

Sem destino e sem futuro meu corpo agora é escravo do caos. Minha alma é parceira do acaso, ando a procura de um lugar pra dormir, de um cantinho pra chamar de lar.

A calçada é meu amparo. Um sofá abandonado é meu trono.
Pois não há lugar como nossa casa.



Monday, August 08, 2011

Naquele tempo, eu me sentia muito solitário.
A cidade era imensa, e eu, apenas mais um sonhador tentando ultrapassar meus próprios limites. Era inverno. A neve caía despreocupada e deixava tudo branco, frio, distante e impessoal.

Eu sempre fazia o mesmo caminho de volta pra casa.
Andava sempre olhando para o chão, eu via diariamente meus sapatos se desgastarem com o tempo e sentia o chão gelado cada vez mais perto. Estava sempre com pressa, sem razão, ao chegar em casa ligava a televisão e deixava a minha vida acabar lentamente, sem sentir dor.

Um final de tarde qualquer, por descuido, nossos ombros se tocaram, suas sacolas caíram, eu peguei por instinto, não por educação.
E era você.
Há muito não te via, nem escutava sua voz, mas sabia que era você.

Matamos saudades, lembramos de coisas que talvez nem haviam acontecido, dividimos nossas dores. As palavras certas nasciam na minha boca e morriam felizes em seu ouvido. Era tão fácil conversar com você, em minutos toda sintonia ofuscada pelo tempo havia sido restaurada.
Era como se nunca havíamos nos separado.
Era como se eu fosse você, e você vivesse dentro de mim.

A tarde passou. As luzes se acenderam. A lua surgiu. O nosso tempo acabou.
Foi uma ótima conversa, sem nada de importante, sem compromisso. O tipo de conversa que crianças tem quando não tem ninguém olhando.
Encostamos na grade. Por um momento ambos olhavam a lua por trás dos prédios. Imaginando um futuro melhor pra todos. Nada precisava ser dito.

Por descuido nossas mãos se tocaram. Os olhares se cruzaram. O silencio ficou pesado.
Houve amor, houve dúvida, houve amizade e carinho. Tudo em um segundo.
Mas a vida seguia seu curso. A cidade queria crescer.
Você foi pelo lado que veio, e eu pelo lado que vim.
Sem despedidas. Sem lágrimas, apenas um sorriso quente.

A vida sempre segue seu caminho.
Enquanto nós, precisamos desesperadamente de morrer. Porque é isso a única coisa que sabemos fazer direito.
Em uma vida cheia de decepções, esperamos pela morte, e pela grandessíssima decepção final.
Pois nós, tristes amantes, não temos uma segunda oportunidade sobre a terra.