Sunday, October 30, 2011

13º andar.
Observando da sacada todos aqueles mortos cainhando de uma lado para o outro, sem propósito, batendo de ombro nos postes e nos carros, gemendo baixinho, parecendo muito comigo quando costumava ficar bêbado pela cidade, atrás de sexo e não de cérebros. Antes de toda essa merda acontecer, antes dos zumbis invadirem as cidades, no mundo real, não nesse pesadelo interminável cheio de sangue e portas lacradas.





Eu estava na sacada com meu roupão vermelho sentado em uma cadeira de praia com os pés elevados e bebendo meu Martini bem gelado, uma raridade naqueles tempos, mas aquele era um dia pra comemorar, porque eu havia encontrado em um outro apartamento uma verdadeira coleção especial de revistas pornográficas. Asiáticas, gêmeas, anões, todo aquele aparato de couro nas mais inimagináveis posições e faziam exatos oito meses e cinco dias que eu não via uma mulher, pelo menos uma viva e inteira. Até aconteceu uma coisa engraçada comigo esses dias, pois eu estava voltando do supermercado, discretamente como deveria ser, carregando com cuidado todas aquelas garrafas de bebidas e alimentos enlatados, foi quando eu vi, em um beco estreito, rastejando pelo chão, com as entranhas de fora, sem as pernas, tentando me alcançar com as unhas sujas e toda aquela carne podre e fétida, uma garota que eu conhecia, que freqüentava o bairro antes da grande invasão, seu nome era Mandy, era toda charmosa, só pedia drinks caros e bebidas exóticas, devia ser de família boa, e tinha uma bunda muito amistosa, duas frutas macias e suculentas que quase sempre estavam apertadas dentro de um vestido curtíssimo. Pois então, como eu estava te dizendo, a Mandy, não era garota pra mim, não me dava a menor bola, vivia pisando em mim, me insultando, me lançando olhares de desprezo fazendo caras e bocas, apontando o dedo pra mim e rindo com suas amigas gostosas, me negando aquele rabo sensacional, e agora quem diria, sua bunda foi comida pelos zumbis e era ela que estava rastejando aos meus pés.

O mundo dá voltas, nesse caso foi uma volta e tanto.

E agora meu maior tesouro eram as revistas sobre a mesa.
Em um mundo solitário.

Primeiro foram as noticias na internet. Logo após nos noticiários da TV. Depois ao vivo no centro da cidade, e antes que eu pudesse me recuperar da bebedeira o perigo estava aranhado a minha porta. E deve ter sido hilário, a minha fuga completamente embriagado, a cada quatro ou cinco passos que eu dava, caía no chão, vomitava e me contorcia, atrás de mim, na mesma velocidade ridícula vinha um zumbi sem um pedaço da canela, que também caía constantemente. Parecíamos velhos amigos voltando do bar embriagados pela bebida.

Foi o primeiro dia do fim do mundo.
As flores não crescem mais.
Eu nunca mais vi minha antiga namorada.

Os gritos de horror sobem pelos andares e chegam aos meus ouvidos.
Os mortos fazem fila na porta do meu prédio.
Apenas uma corrente me separa deles.
Uma corrente que não iria agüentar por mais um dia.
Ela não iria agüentar mais um dia.

Sorte a minha o Martini gelado.
E as revistas sobre a mesa.

Monday, October 10, 2011

Como eu estava te dizendo, sobre essa garota, a Nancy, ela é uma ótima garota, realmente um tesouro, e ainda fica bem nas fotos.
Me apaixonei por ela. Sério. Ela fez meu coração bater, parece coisa de criança eu tô te dizendo, mas ela é assim.

- A Nancy se foi. -

Minhas atitudes são imperfeitas perto da lembrança dela.
No sofá, ainda existe o formato exato de sua bunda. Eu me recuso a sentar no seu lugar, e é proibido para qualquer um.

As vezes fico com o rosto bem pertinho do seu lado da cama, tentando de alguma forma captar fragmentos do seu cheiro, recortes de um passado colorido e feliz, bem diferente do mundo cinza e frio que eu fui arremessado depois que ela foi embora.

Os cigarros contam os minutos.
A bebida é minha maquina do tempo.

Num espaço em branco na parede tinha uma foto dela.
E é isso o que ela é pra mim.
Uma parede. Que eu não consigo ultrapassar.