Thursday, December 20, 2012

Hoje estava passeando na praça da minha cidade favorita.

E não estava bêbado ainda, embora estivesse tentando há algum tempo. 

Me sentei em um banco qualquer. Os pombos logo chegaram. Esperando por comida. Migalhas. Mas o que eu tenho a oferecer? Além de amor e um pouco de bebida? Nada! Ou quase nada! Da mesma forma que chegaram saíram, voando para perto de um casal jovem, que jogava pipocas. 

Bem lá no fundo atrás dos prédios e longe da cidade eu podia ver as montanhas cobertas por arvores verdes e o céu azul, um mundo puro, eu pensei, sem intervenção humana, ou quase nada. É assim que o mundo era, antes do homo sapiens destruir tudo, e construir coisas horríveis depois.

Um carro dobra a esquina em alta velocidade, os pneus cantam no asfalto, é um carro grande, desses importados, e passa com o som alto de uma musica que eu não conheço e não gosto, não se preocupa com a faixa de pedestres, a mãe precisa segurar a criança para que ela não seja atropelada, a criança segurava um sorvete com a outra mão, a bola do sorvete cai no chão com o solavanco da mãe, era de morango eu acho, agora a criança chora sem parar, o som do choro corre as ruas mesmo quando ela sai da vista, a mãe vai ficar estressada, vai chegar em casa e descontar no marido e não vai transar na hora de dormir, coitado do marido, vai ter que sair para uma espelunca qualquer, vai inevitavelmente se embebedar, bater o carro no passeio quando chegar em casa, brigar novamente com a mulher e dormir na sala, a criança vai acordar cedo para ir a escola e vai ver o pai deitado no sofá com a gravata amassada e a camisa fedendo a bebida e a cigarro, e aquela imagem do pai derrotado vai marcar a sua infância e mudar o rumo da sua adolescência, mas ela não sabe, porque não aconteceu ainda, isso tudo porque um carro não respeitou a faixa destinada aos pedestres. 

Antes de levantar ainda tenho tempo de observar algumas pessoas se divertindo na pista de patinação de gelo, alguns rapazes tentam com dificuldade ficar em pé, as pernas tremem involuntariamente e eles têm que segurar na barra lateral pra não cair, e no meio da pista uma garota loira de cabelos curtos patina e se move com graça, deslizando com suavidade e deixando as pernas soltas dentro de uma saia rodada xadrez vermelha, ela não nota os jovens na pista, ela não nota ninguém, isso eu consigo notar, é um momento de pura concentração, um momento de pura individualidade, onde ela está sozinha com seus pensamentos, e segue circulando na pista, num ciclo solitário. 

Saio caminhando entre as pessoas que me incomodam e esbarram em mim a todo momento, ou já estou ficando tonto e não consigo andar em linha reta, aí tenho que ira pra rua, disputar lugar entre os carros e as charretes de passeio, uma delas passa por mim, o cavalo segue em frente alheio aos carros, ele, o cavalo, começa a defecar mas não se importa em parar de correr em frente e segue cagando e andando pra tudo, e eu achei isso muito interessante. 

Por fim acabei perdido e sem rumo, decidi ir até o meu bar favorito, do outro lado do centro da cidade, mas quando cheguei ele já estava fechado. 

E em casa pensei em tudo o que eu tinha visto naquele dia, nas montanhas macias e no céu azul, no carro importado, na menina que ainda iria se traumatizar, na loira patinadora que mesmo sem saber deixou-me excitado, e pensei que talvez, se deus existe, não era assim que ele planejava o mundo quando ele o criou, em algum momento o homem desviou-se do caminho, e desde então vai se afastando dele, homo sapiens talvez, eu não sei, ou eu posso ser um homem errante um bêbado latente um velho de trinta anos que não se encaixa em lugar nenhum e tem pensamentos equivocados sobre as coisas, num mundo onde os cavalos não param pra cagar.

Friday, September 28, 2012


Se a minha vida fosse diferente. Se eu pudesse escolher uma maneira diferente de viver, seria como numa eterna propaganda de pasta de dente, com muito sol, céu azul, praias lindíssimas e garotas de biquíni. Os drinks que eu tomaria seriam exóticos e coloridos, meus dentes seriam tão brancos que poderiam até iluminar o coração da garota mais gelada. Os beijos seriam longos e refrescantes, o meu modo de andar e de falar trasbordaria confiança. Eu caminharia até a piscina e seria o centro das atenções. Uma ruiva sensual iria abaixar seus óculos escuros e me olhar de cima em baixo e depois sorriria em aprovação, e no final da tarde, faríamos amor ao por do sol, e de um modo perfeito, ao gozar, uma lágrima de pura felicidade cairia do meu olho e levaria consigo toda minha tristeza embora. A vida seria assim, no meu eterno verão Kolynos.

Mas não é assim que a coisa funciona.
Pois eu bebo demais, e falo palavrões demais.
As pessoas não gostam de mim, porque eu não gosto delas.
A vida é escura, as ruas são sujas e o vento gelado não me deixa em paz.
O gosto que tenho na boca me incomoda, ele se recusa a sair, mesmo depois dos cigarros baratos que eu fumo. As prostitutas me recusam a cada esquina. Mais uma vez eu estou sozinho, indo embora pra casa sozinho, repetindo comigo as velhas histórias, e ainda caindo nas mesmas armadilhas, tropeçando nos mesmos buracos, e vomitando nos mesmos becos.
Apertado no meu quarto de pensão minúsculo e fétido, não existe espaço para a felicidade, nem para o sol entrar. Na minha cama não existe nenhuma mulher, que poderia varrer a solidão pra fora e limpar essa crosta de depressão que existe na minha vida.

Esse poderia ser mais um dia de sol, ou uma noite fresca e estrelada. Mas esse não é o verão do amor.

Thursday, August 16, 2012

Atrás de uma bunda quente.

Fila do banco. Demora. Espera. Impaciência. Senha.

Me sentia péssimo, e era segunda feira. Ressaca de segunda é especial. É uma merda. Nada de bom tinha me acontecido desde quarta feira da semana passada, já era hora de algo acontecer, eu pensei.

Me chamaram, ou, chamaram meu numero, fui atendido por um sujeito gordinho, de bigode grosso, tinha uma verruga enorme perto da boca, com pelos que tocavam os lábios, uma coisa horrorosa por se dizer, me tirava a atenção, e além disso, não havia dinheiro pra mim no banco, fui embora de mãos abanando, perdi algumas horas da minha vida.

Do lado de fora do banco não estava muito melhor, o sol forte castigava os pobres que não tinham carro, ou dinheiro pra pegar ônibus, agradeci a deus por ter lembrado de pegar os óculos escuros antes de sair de casa, meus olhos são muito sensíveis e não gostam de luz.

E foram os olhos que tiveram o prazer de anunciar a presença da mulher perfeita.

Atravessando a rua ela era intocável, as outras pessoas não existem perto dela, são coadjuvantes da sua infinita beleza. Seu corpo se movia com graça, suas pernas possuíam um ritmo sensual e coordenado, e sua bunda, ah sua bunda era a coisa mais maravilhosa que a natureza foi capaz de permitir. Apertada dentro de uma calça rosa a sua bunda me hipnotizou, os cabelos ondulados dourados macios se movimentavam como uma trigueira balançando ao vendo em um por do sol de domingo.

Sem perceber eu já estava seguindo aquela mulher, andando na mesma velocidade, observando com atenção cada célula desviar dos obstáculos que uma avenida movimentada oferece, meu coração quase parou quando ela de súbito entrou em um ônibus quase lotado, deve ter percebido que estava sendo seguida, corri feito louco pela avenida, não sabia ao certo o que estava fazendo, minha cabeça não conseguia trabalhar de forma consciente, o corpo daquela mulher de calça rosa havia despertado em mim algo que me deixava como num sonho, alucinado pelas curvas, correndo em plena segunda feira sobre um sol amarelo atrás de um ônibus que estava prestes a parar em um ponto, meu esforço valeria a pena, eu iria seguir a calça rosa até em casa, iria descobrir seus gostos, iria me aproximar de mansinho no supermercado, anotar seu telefone em um pedaço de papel, casar, ter filhos e envelhecer ao seu lado, e com sorte morrer abraçado aquele corpo perfeito, que com certeza, seria resistente ao tempo, e estaria durinho quando eu morresse.

O ônibus lotado não era digno de abrigar tal criatura divina, o cheiro de suor dos peões infestava o ar, me descia pela garganta e causava enjoo ao meu estomago, e ela estava sentada na frente, perto da porta, agora com um fone de ouvido, escutando alguma musica que eu não conhecia, em pé, com a cara espremida entre o braço de um brutamontes e uma sacola de compras eu era invisível pra ela, nem parecia que habitávamos o mesmo planeta, que pertencíamos a mesma realidade, eu estava a metros dela, e assim como ela havia entrado no ônibus ela o fez pra sair, rápido como um bote de cobra, não consegui me mover, o veiculo começou a andar e ela se foi caminhando no sentido contrario, eu a havia perdido, e julgando pelo tamanho daquela cidade provavelmente nunca veria aquelas pernas novamente.
Sentei em seu lugar, ainda podia sentir o calor de suas nádegas, e eram bem quentes, me deixou excitado, imaginei meu rosto tocando a parte de dentro da perna, e minhas mãos apertando a carne com amor.

Me senti pequeno.

Separados por galáxias eu havia deixado a pessoa que eu mais amei escapar. Me julguei um ser humano fraco, úmido e mole.

Sentado sem coração agora eu era uma carcaça vazia a trafegar pela cidade, sem destino em um ônibus fedorento, tentando imaginar o rosto que pertencia aquela bunda.

Mas uma vez eu havia perdido algumas horas da minha vida finita.

Atrás de uma bunda quente.

Monday, August 13, 2012


Eu estava sentado no chão de frente
Para o pôr do sol esperando
Que você chegasse e sentasse ao
Meu lado e repetisse a minha alegria.

Queria dizer o quanto eu te amo e
Como sinto a sua falta quando
Você não está por perto e que
Meu corpo fica pela metade sozinho sem você.

Aí você vem e começa a falar
De coisas triviais e sem importância
Eu fico reparando nos seus dentes certinhos e
Como eu gosto da sua boca e te acho linda.

Assim que eu vejo o desastrado que eu sou
Porque o sol se pôs e eu não olhei
Queria lhe falar mas fiquei enroscado sentindo  
O seu cheiro gostoso e com cabelo na boca.

Mas apesar da noite ter chegado
E da saudade ter crescido
De tudo que eu disse, até as coisas bobas
Nunca houve, uma palavra sequer, dita sem amor.

Monday, August 06, 2012


Mais uma vez ela foi embora
Saiu apressada bateu a porta tão forte que fez o quadro cair da parede
Pude ainda escutar o som do salto e dos passos cruzar o corredor e descer as escadas
Levou consigo as minhas tripas, espalhou minhas entranhas pelo caminho
Me deixou sentado no sofá rasgado e sem cigarros
Mas eu já vi essa peça
É uma versão nova de uma velha história
Elas saem e sou eu quem fico
Fico sentado
Fico sozinho                                       
Fico culpado de todos os meus pecados
Culpado por não querer ser feliz
Culpado por querer amores impossíveis e escolhas improváveis
Assim o tempo vai passando
O tempo vai acabando
E até que se prove o contrário
Estamos todos destinados a um final
Que na maioria das vezes
Nem é assim tão feliz.

Saturday, July 21, 2012

Carlos Caseiro sentado no sofá todo rasgado - Observa o seu reflexo na TV desligada Não diz nada - Não pensa em nada - O sol aparece às 15:35 pela janela e some às 17:49 atrás do muro - Carlos Caseiro não se move - Ele é só baba e sebo - O cabelo arruinado - A face tomada por pelos selvagens da barba - O canto dos pássaros do lado de fora é um insulto à solidão que Carlos Caseiro está submerso - Ele observa a televisão desligada - Esperando o Carlos Caseiro da TV fazer alguma coisa interessante - Mas o Carlos Caseiro não é o ator principal do filme da sua própria vida.

Friday, March 23, 2012

O relógio na parede marcava meia noite e pouco. Era um relógio de ponteiros todo velho e surrado. Eu não gosto desse tipo de relógio, os ponteiros me confundem e eu não consigo olhar as horas direito. Não sou bom com números é isso.

Aquela hora era a minha hora preferida para escrever.

Com a brisa gélida noturna que entrava pela janela e percorria toda a casa. O silencio da cidade em sonhos, todos aqueles cachorros disputando nosso lixo e o efeito da bebida amaciando meus pensamentos, tudo isso somado aos cigarros baratos, perfeito para escrever.

Puxei a mesa para perto da janela, peguei o cinzeiro lotado, esvaziei no lixo da cozinha, completei com uma dose de Martini o maior copo que eu achei na casa.

Observei as estrelas e abri minha mente.

Os pensamentos se amontoavam e se chocavam. O amanha e o ontem se faziam escutar a todo o momento, como pragas indesejáveis, o presente era o que interessava, mas ele estava nebuloso.

A folha me encarava. Fria e impessoal. Distante. Vazia. Sem palavras.

Aquilo era um ultraje.

A folha zombava de mim.

Eu estava ficando bêbado. e aquele maldito pedaço de papel em branco ainda não possuía uma mancha se quer.

Sobre o que escrever? As possibilidades eram infinitas até onde eu podia ver. Mas eu não conseguia se quer controlar o fluxo de lembranças e desejos e anseios e todos aqueles trechos de livros e filmes e musicas que se misturavam e interagiam com o Martini e a fumaça dos cigarros que deixava a sala cinza e fosca parecendo muito com um sonho que eu tinha quando era criança, de estar perdido na névoa.

Eu estava perdido em uma folha em branco.

Perdi a paciência. Perdi o controle. E descobri o enorme buraco que existe dentro de mim, mas não é um buraco vazio, é um buraco cheio de coisas inúteis e pensamentos inconscientes e involuntários. Coisas que eu nunca quis aprender e que agora fazem parte de mim, invadindo o meu cotidiano e controlando os meus hábitos.

Eu não consigo pensar o que eu quero.
É a total falta de liberdade. Não conseguir pensar.

Abandonei a folha. Deixei o copo vazio rolar sobre a mesa até cair no chão.

E o cigarro ficou queimando no cinzeiro.

Que queime!

Pois é muito difícil tornar claro por palavras o que está obscuro ainda no pensamento.



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Saturday, January 28, 2012

Em algum lugar tem um pássaro cantando.
Tem um grilo que estrila.
Tem um caminhoneiro rodando por estradas escuras.

A vida se reflete e existem tantos pontos de vista diferentes
Tantos seres pensantes independentes
Que já não é possível distinguir o certo do errado.

Em algum lugar um cachorro late, e incomoda os seus donos.

Um poste se acende
Na hora errada
A vida continua
Mesmo de madrugada.