Tuesday, April 18, 2006

Quando eu morrer, não fechem a porta do meu quarto.

Se por ventura, ao acaso, eu morrer antes de ti, faça-se esse o meu ultimo pedido, não feche a porta do meu quarto, nem mesmo no velo de meu corpo, não obstrua a vista da minha doce fortaleza, meu quarto.
Permita meus amigos o visitarem, pegarem coisas emprestadas, mas certifique-se de que irão devolver, permita a família de em minha cama repousar, ou, passar a noite, mas não feche a porta de meu quarto.
Pois, se fechar, mata a minha lembrança, e fica com cara de lugar proibido, coloca uma pedra sobre o buraco, um ponto final sobre minha vida vivida.
Não quero meu quarto envolto em mistério, sombrio mistério, deixe que entrem, deixe que saiam, não quero as crianças com medo do quarto do defunto, não quero os velhos com medo de abrir a porta e se deparar com lembranças esquecidas, e chorar, quero que se acostumem com meu quarto aberto, trate-o como se eu estivesse ali, pois talvez eu esteja, e não transforme em depósito, com cheiro de esquecimento, com cheiro de passado, olhe para o meu quarto e lembre, quantas vezes eu estava ali, deitado, ou em pé, meu cheiro pode ser que sobreviva aos desgastes dos anos, não quero que perca a minha alegria, a alegria do meu quarto.

Então, se ao acaso eu morrer antes de ti, não quero que fechem, a porta do meu quarto.

Monday, April 10, 2006

Velho.
Você não sabe o que me aconteceu.
Estava rolando uma puta festa na casa de campo do Jean, havia como sempre muitas pessoas se divertindo, o fato era, muita música de qualidade, muitas drogas, algumas garotas e muita bebida, disso eu gostava, e me drogava, tomava comprimidos, fumava baseados diferentes a cada hora, estava alto, altíssimo quase nas nuvens e havia um palco improvisado no local aonde guardavam os carros, tinha uma pequena corda isolando os instrumentos, é claro que não iria funcionar, pensei, uma corda para tantos loucos? Seria necessário o exército para conter essa gang, mas funcionou afinal de contas e todos ficavam aguardando a entrada dos músicos, assim como numa seita, a espera dos santos subirem ao altar, eu já estava bêbado antes mesmo da musica começar a rolar, o povo aclamava por rock, por música, por drogas, por sexo também, por mais, sempre mais, éramos invocadores da diversão, e nós sabíamos como nos divertir.
Enfim, os músicos entraram, eram jovens músicos com um ar de garotos solitários, mas não eram, eles tinham ao seu público, e seu público tinham aos seus músicos, tudo se encaixava como sempre, em uma harmonia perfeita, começaram a tocar e por Deus como eles eram bons, a bateria, ta túm ta túm, o baixo, bum bum bunbum, e a guitarra, me tirava o fôlego, era impressionante e maravilhoso, os acordes soavam e a gang ia ao delírio, todas as pessoas, era notável a diversidade de pessoas e de situações, tinha de tudo, cães que gostavam de rock pesado, mulheres grávidas se drogando, pessoas dormindo no chão, motoqueiros, mães e filhos, veados, lésbicas, e a guitarra entrava na minha mente assim como um parafuso perfura uma superfície de aço, os dedos do guitarrista se moviam tão rápido que quase não conseguia enxerga-los, o baixo era forte e imponente, como um velho rei, a bateria era a pancada, a batida, e o baterista suava sem parar, todos estavam dando o máximo de seus corpos debilitados pelas drogas, e o público reconhecia e faziam a maior algazarra nos intervalos das músicas, todos traziam bebidas para os músicos, precisavam estar bêbados para o som ser completamente puro e verdadeiro, se você quer realmente conhecer um pessoa lhe de uma dose exagerada de poder e ela se revelará santo ou demônio, neste caso, eles eram ambos, tinham o poder de nos elevar, todos nos tornamos melhores após aqueles três dias de festa.

A alvorada já havia chegado e estava de dia, eu me mantinha bêbado, dificuldades motoras começaram a me abalar, não me preocupava, bebia sem parar, haviam muitas garrafas no chão, todas vazias, apenas algumas sobre pia com um gosto horrível, precisávamos nos abastecer, saímos de carro, um casal alucinado ia no banco da frente e eu, Caseiro, atrás, admirando a paisagem do campo, era lindo o amanhecer por aquelas bandas, deixamos a fêmea em casa e fomos nos arredores da cidade comprar um pouco de álcool, entramos alucinados no recinto, não era um buteco, se quer um bar, era uma mercearia, e não pertencíamos àquele lugar, tudo estava diferente, aonde está a musica, as garotas e todos os bêbados, não, família, crianças, cachorros e avós circulando como se fosse um domingo no parque, estava envergonhado, ali não era meu lugar, queria sair imediatamente, compramos as bebidas, furtamos alguns balões, para a alegria da turma e demos o fora, buscamos a fêmea e voltamos para o nosso lugar, o campo de Jean.

O que aconteceu a partir daí foi insanidade alcoólica temporária coletiva, decidimos que era hora da banda voltar a tocar, era quase meio dia, não havia tempo a perder, os músicos tomaram seus lugares e o rock reinou mais uma vez, e desta vez só restavam os mais ávidos pelo som e a batida que se seguia, mas era assim que acontecia, já não sabia mais quem eu era, esqueci do mundo podre fora do campo de Jean, estava bêbado, apaixonado, vivo e morrendo a cada segundo, a única verdade, a morte, nos rodeava, nos dava beliscões, e nos beijava com seu beijo gelado, com gosto de vodka barata, eu adorava tudo aquilo e precisava de um cigarro, começou a chegar pessoas, algumas estavam presentes na noite anterior e outras não, a festa estava recomeçando junto com a música, todos alegres, eu me sentei um pouco para fumar meu cigarro, o Cabelo chegou e se sentou ao meu lado, não conversamos durante um bom tempo, não havia nada a dizer, tudo já estava dito, ou escrito em algum lugar e cantado ali naquela festa, eu não queria me esquecer daquela noite nunca mais, a musica dos jovens músicos deveria ficar gravada na minha mente eternamente.