Tuesday, December 19, 2006

se você tivesse me perguntado eu teria falado a verdade
a verdade por traz de tudo
mas você nunca me perguntou
e eu nunca me preocupei mesmo em dizer
bom. mas de qualquer maneira ela esta aí
pode se lambuzar dela

todos aqueles tombos
todas aquelas sarjetas
copos vazios que brindavam
aquelas risadas exageradas
era tudo real

e nós sempre sonhamos novamente
no outro dia de tarde
voltamos a sonhar
alucinados pela verdade
embriagados pela televisão
nos tira todos os dias a nossa dose de loucura
e a minha parte da viajem
e eu fico no mesmo lugar
barreiras foram feitas para serem quebradas


Oh meu deus! o que estávamos fazendo? eu não sabia mesmo.
andando na rua como loucos perturbados, bêbados demais
alegres de mais, e nos movendo devagar demais
centro da cidade, umas sete horas da manha, aquelas ruas
estavam começando a se encher de gente, dali a pouco haveria carros trafegando
e nos estávamos bêbados rolando nas ruas de asfalto, rindo como se estivéssemos
em casa, sendo olhado pelas pessoas que trabalhavam nas primeiras horas da manha.
eu quase podia tocar a minha alucinação...era tão real que chegava a ser a melhor
mentira do mundo...
tudo aquilo, a feira, o pastel, a garçonete rindo de nossos devaneios, os mosquitos rodeando meu corpo surrado, tudo se encaixava de uma maneira muito estranha, era aquele caos? talvez, mas era delicioso, eu transbordava a álcool e felicidade
os amigos se olhavam desconfiados, quem estava mais bêbado? difícil saber e eu
ainda havia de trabalhar dali algumas horas, iria chegar bêbado no serviço, novamente.
talvez pudesse ser demitido, talvez seja isso mesmo o que eu queira, e olha que
eu não quero muitas coisas, mas de uma coisa eu sei, a verdade está tão a
vista como o céu ou o cu de uma puta pobre, e é tão estranha como o céuou o cu de uma puta pobre

Monday, October 23, 2006

Vamos fazer uma revolução!
Revolução de nós mesmos
Revolução de pensamento
Vamos revogar nossos direitos
De sermos caridosos e gentis
De amarmos ao próximo
Como se ama a si mesmo
Não vamos pichar os muros
Vamos pintar um quadro
Não vamos atirar pedras
Vamos plantar flores
Vamos cantar bem alto
Palavras de paz e amor
Em vez de gritar contra alguém
Que sempre grita de volta.
Vamos ser mais humanos
Vamos ser mais cachorros
Que apesar das nossas guerras
Ainda brincam como crianças
Vamos ser mais crianças!
Vamos revolucionar nós mesmos!
Sem comparações
Sem julgamento
Sem ódio, que é
O câncer do mundo.

A maneira de pensar é
Refletida nas ações feitas por você!

O que você faz, te torna
O que você é!

Vamos fazer uma REVOLUÇÃO!
Vou fazer uma revolução.
Ela começa assim:
_Eu te amo!

Tuesday, October 10, 2006

Aquele Jazz...

Havia naquele bar algo místico, como uma história de um filme que começa pelo final e havia um negro baixinho e gordinho tocando guitarra e aquela deusa morena magra de olhos de cor totalmente apaixonantes morenos como a visão do mar e a vontade é de se afogar naqueles olhos lindos.
_Ah meu Deus eu daria um dedo para estar com ela...
pensei no momento em que entrei pela porta pequena.
Estava frio lá fora e estava quente lá dentro, muito quente.
Eu me sentei bem perto do palco, perto da banda perto dela e pude sentir o seu perfume, era como o cheiro que anjos devem ter e seus cabelos escondiam apenas um dos olhos.
_Morena.
eu disse devagar.
ela olhou.
_Te quero!
ela sorriu.
mas não disse nada.

Eu fiquei esperando a banda tocar para poder falar com ela, e quando a banda parou ela havia me dado um sinal, eu ficaria esperando, como um cão na porta de uma igreja, a espera dos fiéis.
fui ao balcão do bar e perguntei para um dos rapazes se a banda ainda demorariam muito para sair do camrim, ele disse que haviam saido pela porta dos fundos, e me perguntou se eu estava a procura da vocalista da banda, que havia longos cabelos castanhos, eu disse que sim e ele me entregou um bilhete, a pedido dela, e no bilhete havia escrito com letras bonitas e uma marca de batou como um beijo no canto do guardanapo:
Me encontre!
E eu voltei para casa. para dormir e na esperança de em um sonho poder voltar a ver a morena linda que eu encontraria um dia novamente.

Friday, September 29, 2006

Ah...Caseiro....

Caiu mais uma vez, a sarjeta, o impacto foi grande, não diferente das demais quedas, não diferente de qualquer ser humano, que sente dor, que sofre e faz sofrer, que pede perdão.

Mas a cada queda, a cada falta, existe a redenção, existe a recuperação, às vezes pra subir é preciso cair muito, até bater no fundo do poço, você não sabe o tamanho e a profundidade do buraco até cair nele.

Estando no fundo do buraco, você pode olhar pra cima e ver a luz com toda sua força e esplendor, esse que apenas a luz do sol pode ter, luz essa, que só quem ficou em uma sala escura durante muito tempo pode se cegar.

E quando você está fraco, quando está derrotado, completamente nu na chuva intensa, você sente uma força, que ninguém mais pode sentir, que só você percebe crescente como o fogo, que te faz levantar, e que te faz caminhar, e correr, mais rápido do que nunca, mais confiante do que antes, renovado e com novas esperanças.

É essa força que move o mundo.
É essa força que te faz vencer.

É preciso seguir em frente, é preciso trabalhar, é preciso plantar para poder colher, é necessário ter Deus, mesmo que Ele às vezes tenha outro nome, e se esconda nas suas entranhas mais profundas.

Você diz adeus a sarjeta.
Bye-bye tristeza.
Tchau derrota.
Ainda existem muitos buracos para cair.

Tuesday, September 19, 2006

Seres humanos.

Passam a vida como se não fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido.
Muitos deles não amam. Talvez o verdadeiro amor.
Não por um homem, não por uma mulher, mas por si próprio, pelo próximo, mesmo sem conhece-lo, mesmo conhecendo. Amor incondicional, sem medidas, sem limite, infinito, sem cor, sem idade, sem adjetivos. Apenas amor.

Amor que é fé, que move montanhas, que transpõe uma idéia, que ganha os céus.
Amor que não julga, que entende.

O querer bem do amor, é o querer bem de si próprio, é cultivar o amor com a paz, e com trabalho. Muitos ignoram, muitos não sentem, existe ainda aqueles que sentem, mas suas pobres almas transformam o amor em barreira, dizem que é difícil amar, que irão sofrer com o amor, ilusão, sofrimento maior é uma vida sem amor.

Sem amor não há vida, existe apenas perda de tempo, a espera dos últimos dias, com amor há sentimento, existe emoção e alegria, existe lembrança, existe a saudade, existe amizade, existe vida eterna no amor.

Sentimentos são como pássaros irresponsáveis, que não respeitam a vontade ou a razão, eles voam longe que quase se perdem, a imaginação também tem asas, mas essas assas não machucam ninguém, as do sentimento podem ferir, mas podem iluminar e curar, a imaginação sem ação é quase nada, apenas imaginação.

Ele disse “eu te amo”
Mas não se conheciam
Ela disse “eu te amo”
Ele sorriu em resposta
Se abraçaram
Se beijaram
Se amaram
depois beberam vinho
depois fumaram cigarros
conversaram sobre as estrelas e o mar
sobre trabalho e prazer
sobre música
depois dormiram
quando ele acordou ela não estava mais lá
ele sorriu, se levantou, tirou a areia de seu corpo e entrou no mar
nunca mais se viram novamente

Thursday, August 31, 2006

Tínhamos que viajar todo final de semana, mas o que era para ser um passeio agradável nas frias cidades do sul de minas se transformou em uma alucinante viagem regrada a muito rum, wisk e cerveja, como numa profecia misteriosa se encontraram bêbados antigos amigos quase sem querer naquela cidade onde os homens estão sobre as pedras, metaforicamente e literalmente. Iria ser do caralho, foi do caralho.

Vamos partir do começo do delírio.
O que acontece é fantástico demais para não ser contado.
São Tomé das Letras, você só acredita nesta cidade se ver com seus próprios olhos.

Estava sentado na área destinada ao camping, não havia paredes, teto ou janelas, os olhos eram as grandes janelas, o céu brilhava forte sem a lua e estrelas caiam a todo o momento e riscavam o azul escuro esplendido sobre nossas cabeças, eu tocava musicas calmas no violão, a intenção era relaxar e curtir o momento, e enquanto eu fazia o som havia outro preparando um cigarro de madeira no plástico há algum tempo, eu começava a acreditar que nunca iríamos fumar aquela droga, e nunca fumamos, não aquela em especifico.
Sem aviso os homens da lei aparecem, um camburão, “lá barca madre” subiu o barranco levantando a frente do veiculo e lançando aqueles imensos faróis na minha cara, o motor fez um barulho assustador, parecia um leão insano por carnificina prestes a me atacar, eu segui o conselho de quem entende de animais, nunca corra ou demonstre medo, foi o que eu fiz, não dei a mínima, o baseado foi dispensado discretamente, estávamos em três, eu e mais um casal, mantemos a calma e nos deixamos ser investigados pelo delegado cuja a cara não era a das melhores que eu iria ver aquela noite, ele dizia algo sobre assaltos naquela região, pura baboseira, ele queria mesmo era ferrar a gente pra valer, após me revistar e nada encontrar o policial partiu para barraca onde eu estava instalado, mas não havia nada lá dentro, nada mesmo, nem um cobertor ou qualquer mochila, aquilo pareceu frustrar um pouco o oficial, e pensei ainda, esses porcos estão perdendo seu tempo inútil na terra com a gente, porque não vão se divertir, beber alguma coisa, já era de madrugada e trabalho demais pode atrapalhar a vida de um homem, principalmente esse tipo de trabalho. Nada encontraram, se desculparam pelo incomodo, que é isso você só esta fazendo o seu trabalho, eu disse com um cinismo para o delegado, ele entendeu o cinismo, sabia que estávamos sujos, mas nada encontraram, e na luta das verdades encobertas nós marginais havíamos ganhados mais uma vez, mas até quando?

Assim que o carro da policia se afastou começamos a trabalhar em outro cigarro de madeira, e comentamos sobre o “susto” que acabávamos de tomar, era hora de se juntar a civilização, e a outros bêbados também, fumamos, piramos e partimos, rumo ao topo do mundo, rumo ao que iria se tornar uma das noites mais maravilhosas dos últimos meses, como outras noites maravilhosas por aqueles dias.

Havia certo movimento na cidade, as pessoas se alegravam ao som do regue tocando na lanchonete pequena e pouco limpa, ficávamos de longe fitando as pessoas dançando lentamente, eu me sentei no chão, sem muita cerimônia ou qualquer incomodo com o mundo, acendi um cigarro e soprava fogo dos meus pulmões, após alguns minutos de viagem eu percebi que estava sentado ao lado de um grande amigo, Jim como ele foi conhecido naquela cidade em uma outra noite lendária, ele também não havia me notado, e quando percebemos que estávamos há tempos lado a lado sem nos vermos a situação ficou completamente engraçada e irreal, bêbados as vezes não notam a presença das pessoas, mesmo sendo um grande amigo, eu me levantei apertei sua mão e perguntei sobre outros amigos, eles estavam na cidade, perdidos por entre as pedras naquela cidade de pedra, começamos a beber juntos, éramos quatro agora, a gangue estava aumentando, o delírio também.

Subimos mais um pouco até alcançarmos o cruzeiro, era uma vista maravilhosa, muitas estralas brilhavam no céu, constelações inteiras nos vigiavam, Kerouac disse em seu livro “On The Road” que Deus é a Ursa Maior, e talvez fosse mesmo, ele nos olhava, não sei se gostava do que via, mas nós sabíamos como nos divertir, isso era uma benção, poucas pessoas se divertem pra valer em situações tão inusitadas, vivíamos no sub-mundo, adorávamos o underground sujo e fedorento, mulheres sebentas, pessoas bêbadas e sem nenhuma noção de higiene pessoal, cachorros que falam, tudo isso fazia parte de nossas vidas, e ainda havia aquele céu imenso e maravilhoso, você não iria se divertir com tudo isso?

Muitos goles de Bacardi mais tarde estávamos agora em um grande numero de pessoas, algumas quinze eu acho, não posso confiar tanto assim na minha memória, nem na minha visão, não naquela noite, esperávamos o nascer do sol com muita ansiedade, falávamos muito coisas sem muita importância mais essenciais para o momento, fotos eram batidas, risos e vômitos se misturavam fazendo um som sem igual e a escuridão da noite dava espaço ao dia claro e amarelo que estava nascendo, o sol apontou, e o que aconteceu foi estranho, uma espécie de momento mágico milagroso insano e místico, alguns bêbados começaram a interpretar no violão musicas tocadas nas igrejas, “A paz do senhor, quero te dar meu irmão, com toda alegria que existe em meu coração” e por aí vai, foi bom, mesmo que de brincadeira mas era essa mesmo a nossa intenção, propagar a paz que sentíamos, bêbados falavam de paz e amor com a mesma pureza e sinceridade que os poetas do passado, o sol nasceu por completo, todos batiam palmas, e quando o som das palmas cessou Jim vomitou o que seria o comentário mais hilário de todo o fim de semana:
- Mas que merda hein!
Se referindo ao maravilhoso nascer do sol que acabávamos de assistir, a magia deu lugar à insanidade, que também tinha seu lado mágico.

Flagrei depois um amigo, o Cabelo, desabafando com um vira lata que escutava seus lamentos com atenção, se tornaram grandes amigos naquele dia, e nos três, Eu o Cabelo e o Cachorro, cujo demos o nome de “Mano” fumamos o ultimo da noite, que já era dia, e partimos em direção ao centro da cidade, me alimentei “gratuitamente” e fui para minha barraca solitária, sobrou um pouco de Rum na garrafa, cerca de vinte por centro de seu conteúdo total, adormeci sentido que deveria beber o resto sozinho, mas não consegui, melhor assim, sobrou algo para o café da manha.

Thursday, July 13, 2006


Estava sentado em um quarto fechado pela porta e pelo medo, não queria sair, tinha nojo do que iria ver lá fora, era o mundo, aquele em qual nunca quis estar, não que não quisesse viver, mas viver de outra maneira em outro lugar e também por que o som estava bom, muito bom eu comentava.

Blind Guardian – Battlefield

Eu me deixava envolver pela musica e abria minha cabeça para que ela entrasse com força na mente meio descontrolada pelo efeito da bebida, era uma festa de despedida de um velho amigo, Tigre, como nós o chamamos, iria se mudar, para uma cidade maior, porem perto de onde morávamos, havia turmas bem diferentes na festa, eu conhecia quase todos, salvo a um casal que ficava no canto mas que logo comecei a conversar, como se fossemos velhos amigos, estava satisfeito, apesar de um pouco triste, era uma boa festa, e prometia surpresas. A noite avançou, a lua brilhava um sorriso dos céus, um sorriso forçado, de mentira, mas mesmo assim era bonito, a essa altura a festa já havia terminado, não pra mim, eu continuava a beber mesmo sem a presença dos outros convidados, que se foram todos quase ao mesmo tempo, a festa murchou rapidamente, Tigre, o dono da casa e o motivo da festa tinha desaparecido, eu estaria bebendo sozinho se não fosse pelo Maradona que bebia comigo, não o jogador é claro, mas um sósia, meu primo, tão bêbado quanto eu.

Se passaram algumas horas e o Tigre voltou, um terceiro bêbado, juntou-se a nós em nossa tentativa de uma overdose coletiva, fracassada, mas nós estávamos nos esforçando pra valer, e chegou a hora de ir embora.

Cambaleando pela rua eu tive uma visão, um devaneio de loucura tão profunda que foi quase uma experiência de projeção astral, eu me via andando pelas ruas apertadas de um subúrbio marginal, frio e fedorento, havia um cheiro de melancolia no ar, mesmo sem perceber direito sentia que havia alguma coisa de errado, eu não sabia o que era, talvez soubesse, mas ainda não entendia, como se algo de belo estivesse para acabar ou já estivesse acabando, assim como uma estrela cadente ou um relâmpago em uma noite chuvosa, brilhou com rapidez, se foi, e agente fica olhando pro céu, pra ver de novo, pra sentir novamente aquela alegria de ver uma estrela cadente, torce pra esse momento ser eterno, mas ele acaba, sem sabermos por que, um capricho do tempo, ele mata tudo pra todos, e naquela noite eu fiquei sabendo disso, de uma maneira muito inconsciente, bêbado como o de costume nas ultimas noites.

Aquilo não me afetou muito, a visão, não me emocionou e continuava minha caminhada pelas vielas da cidade, com o Maradona, o meu primo, que não dizia muita coisa, eu também não dizia quase nada, apenas caminhávamos em zigue-zague e continuávamos a beber uma ultima porção de álcool, sorrateiramente furtada minutos antes na festa, éramos bêbados que roubavam bebida de seus melhores amigos, o que reforça a teoria de que quanto mais amigo você se torna de uma pessoa, mais inimiga você parece, a intimidade permite que você faça coisas nas quais somente um amigo pode tolerar, as fronteiras do respeito são destorcidas, eu roubara bebida de um bêbado, meu amigo confesso, mas mesmo assim era um roubo, no qual eu nunca iria ser punido, a bebida tinha um gosto diferente.

Cheguei em casa quase ao nascer do sol, e ainda tive tempo para uma ultima refeição antes de me deitar, macarrão instantâneo feito com dois copos e meio de água, nenhum tempero, apenas ketchup, não consegui comer tudo, joguei o resto fora e fui me deitar, e antes de adormecer pensei, as pessoas estavam sujas, todas elas, inclusive eu, precisamos urgente de um banho, logo vamos começar a feder.

Tuesday, May 23, 2006

Dias Frios

Ah... Esses dias tão frios, essa cidade tão solitária, não podia caminhar nas ruas de madrugada como fazia antes, o frio estava acabando comigo, apenas uma dose de conhaque matava minhas dores, estava tão só que poderia até se sentir feliz, sem que ninguém saiba, escondido por entre o nevoeiro, eu conseguia sorrir, um sorriso gelado e frio como as noites nesta pequena cidade.

Estou à espera de grandes mudanças, mesmo achando que elas não virão, nunca.

Havia uma guerra no meu país, havia uma guerra na minha cidade e uma no meu bairro, havia uma guerra dentro de mim, tudo parece estar em guerra, tudo parece estar desmoronando, como um castelo de cartas, e ainda tem esse frio maravilhoso.

Talvez seja melhor estar morto, já que não estamos mesmos vivos.

Sonhamos apenas com a verdadeira felicidade, com a verdadeira vida, disse-me uma vez um certo Bandini, que não estamos de fato vivos, de fato felizes, apenas imitamos a vida, fomos felizes talvez uma vez, a verdadeira paz, experimentada quando estamos no útero de nossas mães, e que talvez, só será repedida quando estivermos de frente com a face da morte, talvez seja melhor morrer.

Talvez seja melhor morrer, do que passar por esses dias tão frios.

Tuesday, April 18, 2006

Quando eu morrer, não fechem a porta do meu quarto.

Se por ventura, ao acaso, eu morrer antes de ti, faça-se esse o meu ultimo pedido, não feche a porta do meu quarto, nem mesmo no velo de meu corpo, não obstrua a vista da minha doce fortaleza, meu quarto.
Permita meus amigos o visitarem, pegarem coisas emprestadas, mas certifique-se de que irão devolver, permita a família de em minha cama repousar, ou, passar a noite, mas não feche a porta de meu quarto.
Pois, se fechar, mata a minha lembrança, e fica com cara de lugar proibido, coloca uma pedra sobre o buraco, um ponto final sobre minha vida vivida.
Não quero meu quarto envolto em mistério, sombrio mistério, deixe que entrem, deixe que saiam, não quero as crianças com medo do quarto do defunto, não quero os velhos com medo de abrir a porta e se deparar com lembranças esquecidas, e chorar, quero que se acostumem com meu quarto aberto, trate-o como se eu estivesse ali, pois talvez eu esteja, e não transforme em depósito, com cheiro de esquecimento, com cheiro de passado, olhe para o meu quarto e lembre, quantas vezes eu estava ali, deitado, ou em pé, meu cheiro pode ser que sobreviva aos desgastes dos anos, não quero que perca a minha alegria, a alegria do meu quarto.

Então, se ao acaso eu morrer antes de ti, não quero que fechem, a porta do meu quarto.

Monday, April 10, 2006

Velho.
Você não sabe o que me aconteceu.
Estava rolando uma puta festa na casa de campo do Jean, havia como sempre muitas pessoas se divertindo, o fato era, muita música de qualidade, muitas drogas, algumas garotas e muita bebida, disso eu gostava, e me drogava, tomava comprimidos, fumava baseados diferentes a cada hora, estava alto, altíssimo quase nas nuvens e havia um palco improvisado no local aonde guardavam os carros, tinha uma pequena corda isolando os instrumentos, é claro que não iria funcionar, pensei, uma corda para tantos loucos? Seria necessário o exército para conter essa gang, mas funcionou afinal de contas e todos ficavam aguardando a entrada dos músicos, assim como numa seita, a espera dos santos subirem ao altar, eu já estava bêbado antes mesmo da musica começar a rolar, o povo aclamava por rock, por música, por drogas, por sexo também, por mais, sempre mais, éramos invocadores da diversão, e nós sabíamos como nos divertir.
Enfim, os músicos entraram, eram jovens músicos com um ar de garotos solitários, mas não eram, eles tinham ao seu público, e seu público tinham aos seus músicos, tudo se encaixava como sempre, em uma harmonia perfeita, começaram a tocar e por Deus como eles eram bons, a bateria, ta túm ta túm, o baixo, bum bum bunbum, e a guitarra, me tirava o fôlego, era impressionante e maravilhoso, os acordes soavam e a gang ia ao delírio, todas as pessoas, era notável a diversidade de pessoas e de situações, tinha de tudo, cães que gostavam de rock pesado, mulheres grávidas se drogando, pessoas dormindo no chão, motoqueiros, mães e filhos, veados, lésbicas, e a guitarra entrava na minha mente assim como um parafuso perfura uma superfície de aço, os dedos do guitarrista se moviam tão rápido que quase não conseguia enxerga-los, o baixo era forte e imponente, como um velho rei, a bateria era a pancada, a batida, e o baterista suava sem parar, todos estavam dando o máximo de seus corpos debilitados pelas drogas, e o público reconhecia e faziam a maior algazarra nos intervalos das músicas, todos traziam bebidas para os músicos, precisavam estar bêbados para o som ser completamente puro e verdadeiro, se você quer realmente conhecer um pessoa lhe de uma dose exagerada de poder e ela se revelará santo ou demônio, neste caso, eles eram ambos, tinham o poder de nos elevar, todos nos tornamos melhores após aqueles três dias de festa.

A alvorada já havia chegado e estava de dia, eu me mantinha bêbado, dificuldades motoras começaram a me abalar, não me preocupava, bebia sem parar, haviam muitas garrafas no chão, todas vazias, apenas algumas sobre pia com um gosto horrível, precisávamos nos abastecer, saímos de carro, um casal alucinado ia no banco da frente e eu, Caseiro, atrás, admirando a paisagem do campo, era lindo o amanhecer por aquelas bandas, deixamos a fêmea em casa e fomos nos arredores da cidade comprar um pouco de álcool, entramos alucinados no recinto, não era um buteco, se quer um bar, era uma mercearia, e não pertencíamos àquele lugar, tudo estava diferente, aonde está a musica, as garotas e todos os bêbados, não, família, crianças, cachorros e avós circulando como se fosse um domingo no parque, estava envergonhado, ali não era meu lugar, queria sair imediatamente, compramos as bebidas, furtamos alguns balões, para a alegria da turma e demos o fora, buscamos a fêmea e voltamos para o nosso lugar, o campo de Jean.

O que aconteceu a partir daí foi insanidade alcoólica temporária coletiva, decidimos que era hora da banda voltar a tocar, era quase meio dia, não havia tempo a perder, os músicos tomaram seus lugares e o rock reinou mais uma vez, e desta vez só restavam os mais ávidos pelo som e a batida que se seguia, mas era assim que acontecia, já não sabia mais quem eu era, esqueci do mundo podre fora do campo de Jean, estava bêbado, apaixonado, vivo e morrendo a cada segundo, a única verdade, a morte, nos rodeava, nos dava beliscões, e nos beijava com seu beijo gelado, com gosto de vodka barata, eu adorava tudo aquilo e precisava de um cigarro, começou a chegar pessoas, algumas estavam presentes na noite anterior e outras não, a festa estava recomeçando junto com a música, todos alegres, eu me sentei um pouco para fumar meu cigarro, o Cabelo chegou e se sentou ao meu lado, não conversamos durante um bom tempo, não havia nada a dizer, tudo já estava dito, ou escrito em algum lugar e cantado ali naquela festa, eu não queria me esquecer daquela noite nunca mais, a musica dos jovens músicos deveria ficar gravada na minha mente eternamente.

Wednesday, March 29, 2006

Então havia chegado o final de semana, estávamos todos ansiosos por aqueles dias, muita festa, muito álcool e muitos outros, havia começado na sexta e ainda não havia acabado, e talvez por sorte conseguimos juntar um bando, e haviam pessoas conhecidas ali, Hellfrick estava presente, com sua turma de boêmios loucos e não havia ninguém, absolutamente ninguém com problemas ou preocupações, estávamos todos a fim de curtir a vida toda em dois dias de festa, eu não comia uma refeição há algum tempo, mas não sentia fome, tomava alguns comprimidos de vitaminas para me manter acordado, mas não conseguia me manter de pé, estava bêbado demais, cansado demais mas ainda com forças para dar algumas risadas dos outros bêbados, e como estávamos todos sentados isso não fazia a menor diferença, eu evitava movimentos bruscos, com uma mão eu levava o copo até minha boca e depois de volta para mesa, eu não enchia meu copo, alguém o fazia por mim.
A minha turma estava reunida um pouco distante das outras pessoas na festa, não queríamos nos misturar com aqueles estranhos, éramos bem piores do que eles, apenas olhávamos suas garotas risonhas com roupas transadas e coloridas, nós estávamos sem camiseta e de shorts mas não importávamos com o fato, queríamos apenas beber e essa era a nossa única ambição na vida naqueles dias, os copos e as garrafas mal cabia na mesa, a musica começou a pular, o cd estava arranhado, a musica ta fodida, eu disse, caiu uma garrafa no chão, não quebrou, eu me levantei com uma enorme dificuldade, cambaleei até o som e mudei de musica.

Velhas Virgens – Blues a perigo.

Mudou a musica mudou também o ambiente, as pessoas sorriam alegremente uns para as outras, exceto aqueles que não estavam de acordo com o som rolando freneticamente, um blues a perigo entrando nas cabeças drogadas de meus companheiros, Hellfrick você é um cara muito estranho, pensei, ele ficava andando de um lado para o outro, conversando com quase todas as pessoas ao mesmo tempo, e ainda sobrava tempo para sua garota, ah Hellfrick seu carcamano de uma figa, rolava sempre uns comprimidos para a turma tomar, eu tomava, e não consegui me deitar pra dormir um pouco, estava eufórico, podia voar pelos ares se quisesse, mas preferia ficar entoado entre aqueles lunáticos que me cercavam e eu também era um lunático, como eles ficava dizendo frases curtas e sem sentido, mas não ligava mais pra nada, tudo estava ótimo, havia de fato esquecido de meus problemas, não lembrava mais deles, e quando lembrava, já não fazia mais sentido ficar me preocupando, eu havia descoberto mais uma vez, deixe seus problemas de lado, e eles deixarão você de lado também, eu estava satisfeito, gostava da minha vida, da minha garota, de meus companheiros, de meu trabalho como pintor no cu do mundo da arte e ganhando pouco e gastando muito viajando pelo país em direção a todas as províncias existentes, conhecia lugares e pessoas interessantes, algumas não tão interessantes, mas sempre gostava de tudo, eu estava me divertindo.


De repente tudo ficou escuro, eu estava na horizontal, provavelmente caído em algum banheiro, não, eu estava em casa, no meu quarto, minha doce fortaleza, havia alguma coisa escrita no teto mas eu não conseguia ler, o teto estava se movendo, desde quando o teto do meu quarto adquiriu a capacidade de se movimentar? E também as paredes! A cama não gostava de mim, ficava tentando me jogar para fora, porra! Eu tinha que colocar o pé no chão, para o mundo parar, pare que eu quero descer! Escutava alguns sons muito estranhos, a onde está a música? Onde estão meus companheiros e as risadas? Hellfrick seu puto retardado! Me tire dessa maldita roda gigante.
Alguém chegou no meu quarto, a visão de um anjo, minha garota, parada em pé na porta, será que ela havia visto meus devaneios? Estendi minha mão para ela, venha se deitar comigo? Por favor! Ela se deitou ao meu lado, naquela cama onde tantas vezes fizemos amor, sexo, sei lá como chamam aquilo, trepada! Mas agora a cama não gostava de mim, e não haveria sexo, amor, me ajude? Por favor meu amor, me ajude? Meu pedido foi em vão, ela não podia me ajudar, ninguém poderia, eu estava sozinho, assim como tantas outras vezes, solitário, sem consciência e alucinado, ela se foi, a música acabou, meus amigos se foram, a festa acabou, tudo acabou, eu estava acabado.

Friday, March 10, 2006

Jukebox: Lynyrd Skynyrd – Devil in a bottle


Ancorado na cadeira, com a cabeça trabalhando a dois kilometros por hora sem saber oque fazer ou oque dizer para todo mundo estava meu corpo sujo e surrado pelos dias quentes daquele acampamento, talvez dentro dele, minha alma relutante de tanta calmaria tentava achar uma maneira mais fácil de conversar com aquela pessoa a sua frente que dizia sem parar coisas estranhas e desconhecidas, reparava sempre em seu cabelo sujo, aqueles dreads que não eram lavados a anos estavam horríveis, estavam horríveis eu pensava, resolvi me levantar e me escorar no balcão de madeira, o lugar era agradável, com uma decoração rústica, havia selas de cavalo penduradas na parede juntamente com rédeas e outros objetos do campo, da roça, enfim, havia uma galera genial nesse buteco a essa hora da madrugada e o bom de butecos abertos na madrugada a fora e que você sempre encontra pessoas legais e muito divertidas e todo o papo rola com uma naturalidade de dar inveja aos psiquiatras do mundo inteiro, em um instante você esta chegando no local e em outro já esta conversando com todo mundo ao mesmo tempo em uma sintonia maravilhosa e a conversa flui em alta velocidade, copos de variadas espécies eram colocados em minha frente a todo momento para serem bebidos de um só vez, e o tiro era certeiro, eu virava cada copo sem deixar qualquer gota, e em meio a musica alta e as pessoas falando em voz alta eu escuto o chamado, Carlos Caseiro vamos fumar um baseado?
Eu aceito de imediato.
A noite estava acabando, mas o dia ainda não havia nem começado.