Se a minha vida fosse diferente. Se eu pudesse escolher uma
maneira diferente de viver, seria como numa eterna propaganda de pasta de
dente, com muito sol, céu azul, praias lindíssimas e garotas de biquíni. Os
drinks que eu tomaria seriam exóticos e coloridos, meus dentes seriam tão
brancos que poderiam até iluminar o coração da garota mais gelada. Os beijos
seriam longos e refrescantes, o meu modo de andar e de falar trasbordaria
confiança. Eu caminharia até a piscina e seria o centro das atenções. Uma ruiva
sensual iria abaixar seus óculos escuros e me olhar de cima em baixo e depois
sorriria em aprovação, e no final da tarde, faríamos amor ao por do sol, e de
um modo perfeito, ao gozar, uma lágrima de pura felicidade cairia do meu olho e
levaria consigo toda minha tristeza embora. A vida seria assim, no meu eterno
verão Kolynos.
Mas não é assim que a coisa funciona.
Pois eu bebo demais, e falo palavrões demais.
As pessoas não gostam de mim, porque eu não gosto delas.
A vida é escura, as ruas são sujas e o vento gelado não me
deixa em paz.
O gosto que tenho na boca me incomoda, ele se recusa a sair,
mesmo depois dos cigarros baratos que eu fumo. As prostitutas me recusam a cada
esquina. Mais uma vez eu estou sozinho, indo embora pra casa sozinho, repetindo
comigo as velhas histórias, e ainda caindo nas mesmas armadilhas, tropeçando
nos mesmos buracos, e vomitando nos mesmos becos.
Apertado no meu quarto de pensão minúsculo e fétido,
não existe espaço para a felicidade, nem para o sol entrar. Na minha cama não
existe nenhuma mulher, que poderia varrer a solidão pra fora e limpar essa
crosta de depressão que existe na minha vida.
Esse poderia ser mais um dia de sol, ou uma noite fresca e
estrelada. Mas esse não é o verão do amor.