Thursday, August 16, 2012

Atrás de uma bunda quente.

Fila do banco. Demora. Espera. Impaciência. Senha.

Me sentia péssimo, e era segunda feira. Ressaca de segunda é especial. É uma merda. Nada de bom tinha me acontecido desde quarta feira da semana passada, já era hora de algo acontecer, eu pensei.

Me chamaram, ou, chamaram meu numero, fui atendido por um sujeito gordinho, de bigode grosso, tinha uma verruga enorme perto da boca, com pelos que tocavam os lábios, uma coisa horrorosa por se dizer, me tirava a atenção, e além disso, não havia dinheiro pra mim no banco, fui embora de mãos abanando, perdi algumas horas da minha vida.

Do lado de fora do banco não estava muito melhor, o sol forte castigava os pobres que não tinham carro, ou dinheiro pra pegar ônibus, agradeci a deus por ter lembrado de pegar os óculos escuros antes de sair de casa, meus olhos são muito sensíveis e não gostam de luz.

E foram os olhos que tiveram o prazer de anunciar a presença da mulher perfeita.

Atravessando a rua ela era intocável, as outras pessoas não existem perto dela, são coadjuvantes da sua infinita beleza. Seu corpo se movia com graça, suas pernas possuíam um ritmo sensual e coordenado, e sua bunda, ah sua bunda era a coisa mais maravilhosa que a natureza foi capaz de permitir. Apertada dentro de uma calça rosa a sua bunda me hipnotizou, os cabelos ondulados dourados macios se movimentavam como uma trigueira balançando ao vendo em um por do sol de domingo.

Sem perceber eu já estava seguindo aquela mulher, andando na mesma velocidade, observando com atenção cada célula desviar dos obstáculos que uma avenida movimentada oferece, meu coração quase parou quando ela de súbito entrou em um ônibus quase lotado, deve ter percebido que estava sendo seguida, corri feito louco pela avenida, não sabia ao certo o que estava fazendo, minha cabeça não conseguia trabalhar de forma consciente, o corpo daquela mulher de calça rosa havia despertado em mim algo que me deixava como num sonho, alucinado pelas curvas, correndo em plena segunda feira sobre um sol amarelo atrás de um ônibus que estava prestes a parar em um ponto, meu esforço valeria a pena, eu iria seguir a calça rosa até em casa, iria descobrir seus gostos, iria me aproximar de mansinho no supermercado, anotar seu telefone em um pedaço de papel, casar, ter filhos e envelhecer ao seu lado, e com sorte morrer abraçado aquele corpo perfeito, que com certeza, seria resistente ao tempo, e estaria durinho quando eu morresse.

O ônibus lotado não era digno de abrigar tal criatura divina, o cheiro de suor dos peões infestava o ar, me descia pela garganta e causava enjoo ao meu estomago, e ela estava sentada na frente, perto da porta, agora com um fone de ouvido, escutando alguma musica que eu não conhecia, em pé, com a cara espremida entre o braço de um brutamontes e uma sacola de compras eu era invisível pra ela, nem parecia que habitávamos o mesmo planeta, que pertencíamos a mesma realidade, eu estava a metros dela, e assim como ela havia entrado no ônibus ela o fez pra sair, rápido como um bote de cobra, não consegui me mover, o veiculo começou a andar e ela se foi caminhando no sentido contrario, eu a havia perdido, e julgando pelo tamanho daquela cidade provavelmente nunca veria aquelas pernas novamente.
Sentei em seu lugar, ainda podia sentir o calor de suas nádegas, e eram bem quentes, me deixou excitado, imaginei meu rosto tocando a parte de dentro da perna, e minhas mãos apertando a carne com amor.

Me senti pequeno.

Separados por galáxias eu havia deixado a pessoa que eu mais amei escapar. Me julguei um ser humano fraco, úmido e mole.

Sentado sem coração agora eu era uma carcaça vazia a trafegar pela cidade, sem destino em um ônibus fedorento, tentando imaginar o rosto que pertencia aquela bunda.

Mas uma vez eu havia perdido algumas horas da minha vida finita.

Atrás de uma bunda quente.

Monday, August 13, 2012


Eu estava sentado no chão de frente
Para o pôr do sol esperando
Que você chegasse e sentasse ao
Meu lado e repetisse a minha alegria.

Queria dizer o quanto eu te amo e
Como sinto a sua falta quando
Você não está por perto e que
Meu corpo fica pela metade sozinho sem você.

Aí você vem e começa a falar
De coisas triviais e sem importância
Eu fico reparando nos seus dentes certinhos e
Como eu gosto da sua boca e te acho linda.

Assim que eu vejo o desastrado que eu sou
Porque o sol se pôs e eu não olhei
Queria lhe falar mas fiquei enroscado sentindo  
O seu cheiro gostoso e com cabelo na boca.

Mas apesar da noite ter chegado
E da saudade ter crescido
De tudo que eu disse, até as coisas bobas
Nunca houve, uma palavra sequer, dita sem amor.

Monday, August 06, 2012


Mais uma vez ela foi embora
Saiu apressada bateu a porta tão forte que fez o quadro cair da parede
Pude ainda escutar o som do salto e dos passos cruzar o corredor e descer as escadas
Levou consigo as minhas tripas, espalhou minhas entranhas pelo caminho
Me deixou sentado no sofá rasgado e sem cigarros
Mas eu já vi essa peça
É uma versão nova de uma velha história
Elas saem e sou eu quem fico
Fico sentado
Fico sozinho                                       
Fico culpado de todos os meus pecados
Culpado por não querer ser feliz
Culpado por querer amores impossíveis e escolhas improváveis
Assim o tempo vai passando
O tempo vai acabando
E até que se prove o contrário
Estamos todos destinados a um final
Que na maioria das vezes
Nem é assim tão feliz.