Tuesday, May 03, 2011

Existia esse cara, um tal de Oliver, não era meu amigo, era amigo de um amigo meu, mas nos encontramos certa vez voltando de San Diego, em uma dessas viagens loucas e sem fim, e uma coisa eu posso te dizer, o cara era um louco, alucinado, tinha aquele olhar diferente, estava com o coração partido, e mulher sempre é capaz de foder com a vida de um homem, qualquer um, qualquer uma.

Estávamos bebendo vinho no seu pequeno apartamento, era um prédio velho, antigo, de madeira escura e janelas grandes e vista para o mar, ele tinha um belo tapete, esse Oliver, sujeito estranho, com as mãos sempre suando, andava em círculos e fumava vários cigarros, tinha um passado tão louco quanto sua aparência, sua mulher e filha haviam morrido em um incêndio, desde então vinha bebendo e tentando comprar uma arma. Com aquele comportamento iria acabar sendo preso, ou morto, mas ele parecia não se importar, de fato ninguém dava à mínima, o mundo era e é tão injusto, grande, redondo e que gira em círculos, e a cada dia o sol trazia consigo a esperança, e ele dizia que os homens são escravos da esperança, funcionários do cotidiano.

Mas esse cara, era escravo dele mesmo, tentando extrair da bebida alguma verdade, queria escrever, registrar a sua historia, para as pessoas não caírem nas mesmas armadilhas que ele caiu.

Ficava batendo na maquina de escrever repetidamente as mesmas frases, ou as vezes o seu nome, durante horas bebendo, fumando, suando e jogando folhas de papel pelo chão, havia centenas delas, por toda parte, folhas datilografadas, fragmentos de varias realidades, frases sem sentido e nomes repetidos.
Mas sua historia, por mais extraordinária que possa parecer, é apenas mais uma, em um mar de infinitas possibilidades, e cada ser que já viveu nesse mundo tem um passado, e uma historia singular.
Cada alma é solitária.
Isolada na própria individualidade.

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A folha em branco me encara, com aqueles olhos frios e infinitos, a frase passeia na minha mente mas se recusa a descer pelos meus braços e fazer com que a mão transmita pra fora do mundo das minhas ideias um pensamento lindo a seu respeito, sobre você, seu corpo e da suavidade da sua pele.

A dor que a folha em branco me causa é inesgotável. A mão desocupada pelo não escrever coloca constantemente cigarros já acesos na boca que traga com desgosto. A falta de palavras suga as minhas forças, tira a cor da minha pele, eu sou um escravo de mim mesmo.

Mas hoje eu acordei mais cedo do que de costume, olhei pela janela e observei as folhas e galhos balançarem com o vento, a grama verde reluzente no sol, a areia branca até o mar, e agora eu percebo claramente, que o que me dói não é a folha em branco, mas a vida vazia e sem sentido, é a saudade de você, e eu estava enganado enquanto a razão do meu sofrer, a falta de palavras é absolutamente coerente, porque longe de você eu não tenho nada a dizer.