Saturday, July 03, 2010

Cheguei mais cedo, como de costume, pra pegar uma mesa boa perto da banda, mas aquela era uma noite especial, e os lugares já estavam ocupados, só restava dois bancos no balcão, ocupei de imediato um deles, deixando o outro vago ao meu lado, um espaço vazio esperando uma bunda para aquecê-lo, o banco e eu.

A garçonete veio driblando todos os bêbados com a bandeja cheia de copos vazios, ou com a bandeja vazia de copos cheios, passou por mim e fingiu que não me viu, deixou todos os copos e saiu em disparada novamente, aquela garçonete, a baixinha, houve um tempo em que eu me jogava aos seus pés e implorava por um encontro, ela me humilhava na frente dos meus amigos, aquela garçonete, nunca me deu bola, nunca me deu nenhuma chance, mas agora eu estava em outra, meu coração era uma gaiola vazia, e havia esquecido aquela garçonete.

A banda começou, e eu realmente queria aproveitar a musica naquela noite, escutar com atenção toda aquela boa vibração, que vinha do palco direto para os meus ouvidos. O banco ao lado havia sido ocupado por uma garota, enquanto o namorado ficava de pé ao seu lado, mas poderia ser o irmão dela também, não havia como saber naquelas circunstâncias, ela me emprestou o fósforo que acendeu o cigarro que eu segurava entre os dedos, o que de alguma forma me fez lembrar que eu ainda não havia bebido nada, e a minha saliva estava se acabando.

Justamente ela, a baixinha, veio pra me atender, perguntou o que eu queria, - você sabe o que eu quero! – respondi sem olhar para ela, porque eu sabia que ela sabia realmente o que eu iria beber, Run, um pedido bem simples feito pelo menos uma centena de vezes desde que eu comecei a freqüentar o bar, ela bateu o pé, levantou o nariz e disse – pois bem, irei trazer o seu Run, senhor! – e saiu me dando as costas, eu estava me aquecendo com ela.

A noite e a banda seguiam em frente, e eu continuava a ignorar a baixinha, sempre que podia reclamava da dose que me serviam, fazia questão de utilizar de toda a falta de educação possível, e ela me olhava furiosa, me respondia com tanta raiva que chegava a cuspir em mim, eu tirava o lenço do bolso para expressar o meu desdém, e soprava a fumaça do cigarro na sua cara, naquela altura eu tinha o controle total da situação, ela se sentia inferior, ela era inferior, a garçonete baixinha.

No goró eu viajei, e tomei demais.
Paranóia delirante, eu tô na paz.

Bêbado eu via o bar se esvaziar, e debruçado sobre o balcão contava os meus copos, a garçonete passeava com a vassoura empunhada, mas não varria nada, acho que tentava me irritar, conseguiu eu confesso.

Esperei todo mundo ir embora, dei uma boa encarada nela, puxei a fumaça com força, soprei com mais força ainda – ei você! baixinha! vêm aqui que eu preciso lhe falar! – ela veio toda raivosa, já preparando algum tipo de resposta pra minha grosseria e disse assim que se aproximou – o que é? pode falar, senhor Carlos Caseiro! – eu dei uma breve gargalhada, olhei fundo nos olhos dela, bem fundo mesmo, ela sentiu, eu senti que ela estremeceu e arrepiou por debaixo do avental, peguei suas mãos e trouxe junto ao meu peito, as palavras saíram com sinceridade – se soubesse as coisas que quero fazer com você, mudaria todos os seus planos – por essa ela não esperava, eu a acertei em cheio, ela deixou cair a vassoura, saiu sem responder.

Depois voltou alegre com uma boa dose de Rum – toma! essa é por conta da casa! – disse e sorriu em seguida, e quando sorriu ela iluminou o salão vazio, seu rosto feliz arremessou pra longe toda a minha tristeza, foi um momento de pura felicidade, tudo com apenas um sorriso, ela dançou em direção a porta da cozinha enquanto eu retomava o fôlego e tentava não afogar na minha paixão, antes de entrar ela parou e olhou por cima do ombro, lançou um sorriso delicioso, que até hoje me tira o sono.