Friday, October 26, 2007

O dia era 24 o mês outubro e as horas eu não me lembro muito bem, mas era ainda de manha antes do almoço, eu estava com fome.

Sentado em frente ao computador com a cabeça sendo escorada pelo braço apoiado sobre a mesa olhando para tela plana recheada de informações inúteis para mim eu passava a manhã no trabalho sem grandes emoções porem com muito serviço e aquilo tudo estava acabando comigo, todas aquelas pessoas sorridentes e despreocupadas completamente indiferentes ao verdadeiro caos que se estabelecia no mundo naquele exato instante em que fingíamos que estávamos em paz.

Eu não estava em paz.

O entra e sai dos funcionários dos outros departamentos na minha sala me enfurecia crescentemente, me diziam coisas sem importância e extremamente complicadas, sem arte, sem poesia ou amor, completamente sem importância.

Sem aviso prévio me bateu de repente uma vontade imensa de escrever qualquer coisa em qualquer lugar, sair pintando pelas paredes do escritório com o batom vermelho da minha chefe e o pior é que eu sabia onde estava o batom e as paredes estavam ali na minha frente totalmente brancas, o que me impedia de satisfazer aquela minha vontade insana? Apenas a minha consciência me mantinha sentado em frente ao computador, mas os limites se dissolviam a cada segundo e eu precisava sair dali imediatamente do contrario seria despedido.

Saí do serviço sem avisar e corri na chuva intensa até chegar em casa e me sentar em frente a maquina de escrever para que todo molhado eu pudesse libertar aquele impulso criativo emocionante que assombrava minha alma. Mas nada aconteceu! as palavras não brotavam, não nasciam nem se quer existiam, me levantei andei em círculos e fumei vários cigarros tentando extrair do fundo da minha consciência tudo aquilo que momento antes estava claro e que agora havia desaparecido por completo, eu me sentia um inútil, derrotado pela minha própria incapacidade de dizer as pessoas os meus sinceros sentimentos, precisava contar a alguém o quanto eu a amava, então era isso! Resolvi sair de casa para poder declarar ao mundo todo meu amor, e vi andando por entre os carros uma mulher ruiva com uma saia curtíssima e uma bolsa rosa parecendo uma prostituta e talvez ela fosse mesmo uma prostituta mas eu não me importava só queria que ela soubesse o quanto eu admirava aquela mulher forte e tão cheia de vida e disposta a enfrentar tudo o que viesse em seu caminho, disse-lhe:

_ Mulher das ruas com cabelos da cor do sol, eu te amo, sei que você não me conhece e por isso o nosso amor é tão maravilhoso (ela começou a fazer uma cara esquisita) e sei que você também me ama, sei por que eu posso sentir seu amor à distância, posso sentir a energia que existe entre as nossas almas e também de todas as almas... ela me interrompeu dizendo:

_O programa é dez real.

_Não você não entende, meu amor por você vai alem de qualquer dinheiro ou programa eu só queria...

_Se não vai pagar não tem programa!

Era inútil, ela não conseguia entender, então comecei desesperadamente a abordar as pessoas nas ruas para poder deixar fluir toda aquela sensação maravilhosa que eu estava sentindo, mas elas pareciam sempre muito ocupadas e sem tem tempo para besteiras como o amor e paz, e novamente a tristeza se abateu sobre mim, eu era a derrota com pernas, então comecei a chorar e não tinha vergonha disso, e nem assim as pessoas me notavam, passavam e esbarravam em mim mas não percebiam o meu sofrimento, eu estava invisível, então voltei pra casa, para o meu quarto, minha fortaleza segura, estava chorando agora com mais fervor as vezes chegava a soluçar, agarrava meus joelhos e ficava em posição fetal me sentindo frágil e sozinho com um imenso fardo nas costas cujo peso era demais para suportar e neste momento a campainha tocou e ao mesmo tempo bateram na porta, mas eu não queria ver ninguém, não queria que ninguém me visse então me arrastei para debaixo da minha cama e fechei meus olhos tentando fazer com que tudo o que existia fora do meu quarto desaparecesse e pouco a pouco eu fui me acalmando e voltando ao meu estado normal de consciência e ao abrir novamente os olhos eu descobri um giz de cera esquecido entre a poeira existente debaixo de toda cama, então peguei o giz com a ponta dos dedos, segurei firme e pressionei contra meu peito e disse pra mim mesmo:

_ Caseiro essa é a sua última chance seu imbecil, pense bem o que você vai escrever, sua vida depende disso.

Escrevi na parede debaixo da cama:

Vai chegar um tempo em que os homens serão capazes de controlar perfeitamente todo o amor e energia que existe dentro de cada um, e esse processo não é um processo fácil e rápido, ele é lento e tortuoso, mas já começou.

Escrevi e depois li, uma lágrima escorreu, saí de debaixo da cama e me levantei, tinha explicações a dar no trabalho.

Thursday, October 11, 2007

eram dias tão longos
noites tão curtas
essas que eu passava sempre sozinho

Caseiro você está derrotado sentado na pequena varanda de sua casa em Los Angeles, sua rua e suas palmeiras que dividiam as pistas estavam imóveis e sem movimento, havia uma folha em branco e um lápis pequeno dividindo a mão com um cigarro pela metade esperando para ser tragado, ele foi, e ao voltar deixou cair na folha uma pequena cinza manchando o que estava limpo e dando início a um novo poema que se escreveu.

detalhes
observo-te nos seus detalhes
se boceja ao ver alguém bocejar
se canta músicas cafonas ao acordar
se abaixa a blusinha para tampar a barriga minúscula
sentimentos piegas e contraditórios esses que eu tenho
sempre a te procurar
sempre a te imaginar
sou um romântico a moda antiga
talvez perdido no tempo
talvez encontrando alguma coisa


escrevi de uma só vez e não alterei em nada o que acabara de escrever na folha antes em branco agora manchada pelas cinzas de um cigarro que acabou, escondi o poema, certas coisas que escrevo jamais devem ser lidas por ninguém, terminei o copo de vodka que não era meu e me deitei já meio bêbado mesmo sabendo que não iria conseguir dormir por enquanto, me levantei destranquei a porta do meu quarto e voltei a beber com as outras pessoas, ninguém pareceu ter notado a minha ausência e continuei concentrado escutando a conversa dos outros bêbados, eu sou assim mesmo, sempre te venerando em silêncio, sem que ninguém saiba esse é meu pequeno segredo, o meu amor impossível, meu amanhecer, minha incansável imaginação.