Thursday, July 13, 2006


Estava sentado em um quarto fechado pela porta e pelo medo, não queria sair, tinha nojo do que iria ver lá fora, era o mundo, aquele em qual nunca quis estar, não que não quisesse viver, mas viver de outra maneira em outro lugar e também por que o som estava bom, muito bom eu comentava.

Blind Guardian – Battlefield

Eu me deixava envolver pela musica e abria minha cabeça para que ela entrasse com força na mente meio descontrolada pelo efeito da bebida, era uma festa de despedida de um velho amigo, Tigre, como nós o chamamos, iria se mudar, para uma cidade maior, porem perto de onde morávamos, havia turmas bem diferentes na festa, eu conhecia quase todos, salvo a um casal que ficava no canto mas que logo comecei a conversar, como se fossemos velhos amigos, estava satisfeito, apesar de um pouco triste, era uma boa festa, e prometia surpresas. A noite avançou, a lua brilhava um sorriso dos céus, um sorriso forçado, de mentira, mas mesmo assim era bonito, a essa altura a festa já havia terminado, não pra mim, eu continuava a beber mesmo sem a presença dos outros convidados, que se foram todos quase ao mesmo tempo, a festa murchou rapidamente, Tigre, o dono da casa e o motivo da festa tinha desaparecido, eu estaria bebendo sozinho se não fosse pelo Maradona que bebia comigo, não o jogador é claro, mas um sósia, meu primo, tão bêbado quanto eu.

Se passaram algumas horas e o Tigre voltou, um terceiro bêbado, juntou-se a nós em nossa tentativa de uma overdose coletiva, fracassada, mas nós estávamos nos esforçando pra valer, e chegou a hora de ir embora.

Cambaleando pela rua eu tive uma visão, um devaneio de loucura tão profunda que foi quase uma experiência de projeção astral, eu me via andando pelas ruas apertadas de um subúrbio marginal, frio e fedorento, havia um cheiro de melancolia no ar, mesmo sem perceber direito sentia que havia alguma coisa de errado, eu não sabia o que era, talvez soubesse, mas ainda não entendia, como se algo de belo estivesse para acabar ou já estivesse acabando, assim como uma estrela cadente ou um relâmpago em uma noite chuvosa, brilhou com rapidez, se foi, e agente fica olhando pro céu, pra ver de novo, pra sentir novamente aquela alegria de ver uma estrela cadente, torce pra esse momento ser eterno, mas ele acaba, sem sabermos por que, um capricho do tempo, ele mata tudo pra todos, e naquela noite eu fiquei sabendo disso, de uma maneira muito inconsciente, bêbado como o de costume nas ultimas noites.

Aquilo não me afetou muito, a visão, não me emocionou e continuava minha caminhada pelas vielas da cidade, com o Maradona, o meu primo, que não dizia muita coisa, eu também não dizia quase nada, apenas caminhávamos em zigue-zague e continuávamos a beber uma ultima porção de álcool, sorrateiramente furtada minutos antes na festa, éramos bêbados que roubavam bebida de seus melhores amigos, o que reforça a teoria de que quanto mais amigo você se torna de uma pessoa, mais inimiga você parece, a intimidade permite que você faça coisas nas quais somente um amigo pode tolerar, as fronteiras do respeito são destorcidas, eu roubara bebida de um bêbado, meu amigo confesso, mas mesmo assim era um roubo, no qual eu nunca iria ser punido, a bebida tinha um gosto diferente.

Cheguei em casa quase ao nascer do sol, e ainda tive tempo para uma ultima refeição antes de me deitar, macarrão instantâneo feito com dois copos e meio de água, nenhum tempero, apenas ketchup, não consegui comer tudo, joguei o resto fora e fui me deitar, e antes de adormecer pensei, as pessoas estavam sujas, todas elas, inclusive eu, precisamos urgente de um banho, logo vamos começar a feder.