Monday, August 08, 2011

Naquele tempo, eu me sentia muito solitário.
A cidade era imensa, e eu, apenas mais um sonhador tentando ultrapassar meus próprios limites. Era inverno. A neve caía despreocupada e deixava tudo branco, frio, distante e impessoal.

Eu sempre fazia o mesmo caminho de volta pra casa.
Andava sempre olhando para o chão, eu via diariamente meus sapatos se desgastarem com o tempo e sentia o chão gelado cada vez mais perto. Estava sempre com pressa, sem razão, ao chegar em casa ligava a televisão e deixava a minha vida acabar lentamente, sem sentir dor.

Um final de tarde qualquer, por descuido, nossos ombros se tocaram, suas sacolas caíram, eu peguei por instinto, não por educação.
E era você.
Há muito não te via, nem escutava sua voz, mas sabia que era você.

Matamos saudades, lembramos de coisas que talvez nem haviam acontecido, dividimos nossas dores. As palavras certas nasciam na minha boca e morriam felizes em seu ouvido. Era tão fácil conversar com você, em minutos toda sintonia ofuscada pelo tempo havia sido restaurada.
Era como se nunca havíamos nos separado.
Era como se eu fosse você, e você vivesse dentro de mim.

A tarde passou. As luzes se acenderam. A lua surgiu. O nosso tempo acabou.
Foi uma ótima conversa, sem nada de importante, sem compromisso. O tipo de conversa que crianças tem quando não tem ninguém olhando.
Encostamos na grade. Por um momento ambos olhavam a lua por trás dos prédios. Imaginando um futuro melhor pra todos. Nada precisava ser dito.

Por descuido nossas mãos se tocaram. Os olhares se cruzaram. O silencio ficou pesado.
Houve amor, houve dúvida, houve amizade e carinho. Tudo em um segundo.
Mas a vida seguia seu curso. A cidade queria crescer.
Você foi pelo lado que veio, e eu pelo lado que vim.
Sem despedidas. Sem lágrimas, apenas um sorriso quente.

A vida sempre segue seu caminho.
Enquanto nós, precisamos desesperadamente de morrer. Porque é isso a única coisa que sabemos fazer direito.
Em uma vida cheia de decepções, esperamos pela morte, e pela grandessíssima decepção final.
Pois nós, tristes amantes, não temos uma segunda oportunidade sobre a terra.

1 comment:

Anonymous said...

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uma segunda oportunidade pode ser que seja impossível, mas antes de tudo é preciso que se tenha coragem de encarar a primeira.

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