"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior."
subo os degraus devagar de forma que meus olhos contam quantos passos dou até o topo, são treze até a porta fechada que abro com a chave que tenho, entro junto com a luz da lua e deixo o casaco sobre o sofá e me pergunto em silêncio se poderia haver alguma cerveja, atravesso o corredor e abro a geladeira que não me mostra cerveja, mas sim uma garrafa de Run que estava sendo guardada para uma ocasião especial, aquela não era uma noite especial, tão pouco uma noite agradável, apenas como outra qualquer, ruim e triste, assim como são a maioria dos meus dias, abro a garrafa e bebo no bico sentado vento TV com a luz da sala apagada, a voz da apresentadora me incomoda por isso abaixo o volume até que se cale totalmente, escuto meu coração bater lentamente, me lembra que estou morrendo desde o dia em que nasci até hoje, bebo rápido e fico de porre depressa, agora a imagem na tela me incomoda, coloco em um canal sem sinal e fico admirando a televisão chamuscando cinza sem som quando o companheiro de casa chega abre a porta com pressa acede luz e se assusta com minha presença sombria e bêbada no sofá da sala, e me pergunta o que estou fazendo no escuro e vendo a tv chiar, “morrendo” eu respondo com a voz trêmula por causa da bebida, procure ajuda, ele me orienta e se vai para cozinha procurar por comida, continuo bebendo junto com meus pensamentos, o outro se senta com seu prato de comida e me oferece um pouco, mas eu havia parado de comer a algum tempo, pede para mudar de canal e fica falando alto, me atrapalha a pensar, me levanto com dificuldade; _olha aqui seu filho da puta, quer mudar de canal e ser enganado pois bem, SOCA O CONTROLE NO RABO!
jogo o controle na cara do rapaz falador e me tranco no quarto em pé na janela, escuto ele esmurrar a porta e gritar palavrões que não me abalam nenhum pouco.
jogo a garrafa vazia no terreno ao lado, encontro no chão meu caderno de anotações com um lápis velho dentro, abro sem critério e escrevo em qualquer pagina de qualquer jeito, “o mundo está se acabando, e eu junto com ele.”
durmo e tenho bom sonhos, acordo de bom humor noutro dia.
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